terça-feira, 30 de setembro de 2014

Contra o sofrimento, não contra o pecado

Tenho uma amiga querida que uns anos atrás fez um aborto. Morávamos juntas e tínhamos grande cumplicidade. Eu conhecia bem seus hábitos, seus medos, seus sonhos, suas expectativas. Nossa  diferença de idade é de 15 anos mais ou menos, portanto na época eu ja estava formada, trabalhando, tinha meu filho e ela estava saindo da faculdade.
Minha amiga sempre gostou de se divertir, costumava sair nos finais de semana, beber um pouco e, não raro, arrastava alguém prá passar a noite com ela, às vezes se apaixonava, outras não queria mais saber do cara, tinha surpresas e decepções. Sempre achei tudo isso normal, ela estava numa fase legal da vida, de poder se entregar a muitas experiências.
Ela sempre se preocupava com a camisinha. Mesmo bem drunk,  nunca deixava de usar. Só que um dia, que  ela não conseguia se lembrar bem, alguma coisa deu errada. Ela tinha certeza de ter dado a camisinha pro cara, mas ainda assim, minha amiga ficou grávida.
Passamos uma semana inteira conversando sobre o assunto. Ponderei com ela, muito  longamente, todas as possibilidades: ela ter o filho sozinha, ela falar pro cara, ela conversar com a família; sobre as mudanças positivas que poderiam se dar na sua vida com a chegada de um bebê. Usei uma frase que eu mesma ouvi quando fiquei grávida: filho traz sorte.
Apesar de todos os argumentos e dos exercícios de imaginação sobre o futuro da minha amiga com um filho, ela quis fazer o aborto.
Cconseguiu o endereço de um médico, num prédio comercial elegante, numa área nobre de São Paulo. Só havia uma mulher idosa na recepção. O médico também era um homem de uns 60 anos. Entrei com ela na consulta, ele fez várias perguntas e um exame de toque. Depois do acerto financeiro, feito com a secretária (acho que uns 3 mil reais na época) pegamos o endereço de um outro local, onde minha amiga deveria ir no dia seguinte.
No outro prédio, perto do centro,  a placa da sala indicada "centro de fertilização humana". Fomos recebidas por uma secretaria/enfermeira, que nos tranquilizou dizendo que tudo se resolveria bem rápido. E foi. Pouco depois o médico entrou por uma porta dos fundos. Minha amiga ficou cerca de 20 minutos lá dentro. Da sala de espera eu só ouvi um som parecido a de um aspirador.
Ela dormiu por uma hora. Acordou um pouco grogue mas se recuperou bem rápido. Ficamos ali mais algum tempo, para que a enfermeira tivesse certeza de que ela estava bem. Saímos de lá com minha amiga caminhando e profundamente  aliviada. Ela não queria ter um filho solteira, de um cara desconhecido, que ela encontrara uma ou duas noites.
Minha amiga agora é mãe de duas crianças lindas, e ela e o marido andam planejando mudar do apartamento para uma casa, porque eles pensam em ter mais um filho.
Minha amiga tem vocação para ser mãe, para ser mulher, para ser amante, para ser profissional, para ser feliz.
Ninguém tem o direito de julgar as escolhas do outro. E cada um deve fazer aquilo que avalia ser melhor para si.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

UNFOLLOW

Não sigo mais você.
Não quero mais saber o que você comeu, que filme você assistiu, qual o novo livro na sua estante.
Não quero mais ver que lugares tem visitado, que piada você curtiu, quem será seu candidato, nem qual era seu humor, quando saiu da cama hoje.

Não sigo mais você.

Não quero mais me perturbar com a nova amiga do seu face,  seguir os rastros dos seus posts, nem invejar sua alegria naquela foto postada ontem.

Não sigo mais você.
Não vou reler o último torpedo,  arquivei todos os emails, deletei aquele vídeo e que se dane aquela bolinha verde, anunciando você na rede. Nem teu signo mais eu leio.

E juro:  teu OFF nunca mais me fará sofrer.


De agora em diante, só quero a coisa bruta da tua presença, com seus cheiros perturbantes, seus gostos delirantes e seus versos que só pelos poros da minha pele posso  compreender.


Não sigo mais você.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

AMANTES


CHOVIA
NA NOITE DO ESPLÊNDIDO EMBATE.

DOS DOIS LADOS OS COMBATENTES EXERCERAM PLENAMENTE A VONTADE DE POTÊNCIA.

EXTENUADO, ELE ADORMECEU.

EM VIGÍLIA, ELA VIU SUA ALMA SUTILMENTE TRANSITAR DO MAIS AMARGO ÓDIO
AO MAIS APAIXONADO AMOR.