Limpar e arrumar a casa é coisa que faço com certo prazer. Não gosto de
estar todo o tempo com a vassoura na mão, nem sou obcecada por limpeza, curto outros prazeres da vida
doméstica. Mas gosto de limpar e conjugo também verbos como
organizar, clarear, arejar, perfumar, brilhar, além dos afins, como combinar, equilibrar, harmonizar. Gosto do limpo e arrumado, nenhum canto me escapa e até
coloco o óculos para me certificar de que não ficou uma sujeirinha para trás.
Isso me caracteriza e posso transformar qualquer lugar num lar, basta que ali haja acolhida. Não sou daquele tipo que sente falta do próprio travesseiro. Lembro de uma viagem de moto com um namorado, só tínhamos uma rede, chegamos lá pela floresta de Itatiaia já tarde da noite e só encontramos um rancho escuro para dormir. Foi uma noite fria e chuvosa e o abrigo nos protegeu. Pela manhã, antes de abandonar o local, lembro de pensar que, se tivesse uma vassoura, deixava limpo o lugar.
Essa faceta já me trouxe muita reflexão. Tempos atrás convivi com uma pessoa sem nenhuma habilidade para limpezas e arrumações. Ela não sabia fazer nada, não aprendera e não devia gostar também. O quarto onde dormia era sempre fechado (para nao entrar pó, dizia, no que eu achava graça), colecionava dezenas de objetos, que entulhavam o quarto, tinha bichos de estimação e ainda fumava dois tipos de cigarrinhos. Tudo ali, no mesmo lugar. Eu costumava limpar, uma semana depois voltava tudo a ser como antes.
Mas foi por causa dela que muitas vezes questionei esse meu jeito de ser. Ela era extremamente generosa; partilhava tudo que era dela, nunca estava de mal humor, ficava genuinamente feliz na presença de outras pessoas. Não ligava para a sujeira ao seu redor, mas tinha uma pureza interior, e muitas vezes inverti esta perspectiva ao me avaliar. Demorei para entender que, afinal, todos temos um lado limpo e outro sujo - embora nunca tenha deixado de considerar que algumas pessoas são mais limpas que outras e não estou falando da poeira no chão ou da louça em cima da pia.
Gostar de limpar não significa camuflar um lado sujo, não é mania ou neura. Talvez seja uma tentativa de compatibilizar o mundo ao meu redor com as necessidades interiores; no caos, no sujo, no fora de ordem eu me desequilibro - como se todas essas coisas tivessem poder sobre mim. E sempre acho que, na impossibilidade de mostrar outras habilidades, que talvez eu nao possua, esse é o máximo do talento que tenho a exibir...
Conheço pessoas originais na arte de se relacionar. Tenho uma amiga DJ que recebe os amigos em casa com músicas que compõem a história pessoal deles. Do meu jeito, busco compor uma atmosfera agradável para mim mesma e para aqueles que me cercam. Alguns se sentem gratos e envolvidos por ela.
Depois das faxinas, quando meu corpo ainda resiste, coloco a pressão na panela e preparo um cozido cheiroso; saltam umas batatas tenras do forno e, dependendo do clima, uma (ou mais de uma) taça de vinho me ajuda a relaxar, desfrutar do resultado do esforço. Em noites assim, às vezes de lua e estrelas no céu, tenho vontade de filosofar, de pensar na beleza das coisas, mesmo sabendo que, no outro dia, vai ter mais louças para lavar.
Isso me caracteriza e posso transformar qualquer lugar num lar, basta que ali haja acolhida. Não sou daquele tipo que sente falta do próprio travesseiro. Lembro de uma viagem de moto com um namorado, só tínhamos uma rede, chegamos lá pela floresta de Itatiaia já tarde da noite e só encontramos um rancho escuro para dormir. Foi uma noite fria e chuvosa e o abrigo nos protegeu. Pela manhã, antes de abandonar o local, lembro de pensar que, se tivesse uma vassoura, deixava limpo o lugar.
Essa faceta já me trouxe muita reflexão. Tempos atrás convivi com uma pessoa sem nenhuma habilidade para limpezas e arrumações. Ela não sabia fazer nada, não aprendera e não devia gostar também. O quarto onde dormia era sempre fechado (para nao entrar pó, dizia, no que eu achava graça), colecionava dezenas de objetos, que entulhavam o quarto, tinha bichos de estimação e ainda fumava dois tipos de cigarrinhos. Tudo ali, no mesmo lugar. Eu costumava limpar, uma semana depois voltava tudo a ser como antes.
Mas foi por causa dela que muitas vezes questionei esse meu jeito de ser. Ela era extremamente generosa; partilhava tudo que era dela, nunca estava de mal humor, ficava genuinamente feliz na presença de outras pessoas. Não ligava para a sujeira ao seu redor, mas tinha uma pureza interior, e muitas vezes inverti esta perspectiva ao me avaliar. Demorei para entender que, afinal, todos temos um lado limpo e outro sujo - embora nunca tenha deixado de considerar que algumas pessoas são mais limpas que outras e não estou falando da poeira no chão ou da louça em cima da pia.
Gostar de limpar não significa camuflar um lado sujo, não é mania ou neura. Talvez seja uma tentativa de compatibilizar o mundo ao meu redor com as necessidades interiores; no caos, no sujo, no fora de ordem eu me desequilibro - como se todas essas coisas tivessem poder sobre mim. E sempre acho que, na impossibilidade de mostrar outras habilidades, que talvez eu nao possua, esse é o máximo do talento que tenho a exibir...
Conheço pessoas originais na arte de se relacionar. Tenho uma amiga DJ que recebe os amigos em casa com músicas que compõem a história pessoal deles. Do meu jeito, busco compor uma atmosfera agradável para mim mesma e para aqueles que me cercam. Alguns se sentem gratos e envolvidos por ela.
Depois das faxinas, quando meu corpo ainda resiste, coloco a pressão na panela e preparo um cozido cheiroso; saltam umas batatas tenras do forno e, dependendo do clima, uma (ou mais de uma) taça de vinho me ajuda a relaxar, desfrutar do resultado do esforço. Em noites assim, às vezes de lua e estrelas no céu, tenho vontade de filosofar, de pensar na beleza das coisas, mesmo sabendo que, no outro dia, vai ter mais louças para lavar.
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